03 abril 2010

Mães e filhos

Dos pais, reza pouco a história. São as mães que os alimentam, consolam e carregam, claro. Durante vários anos. Quando um outro filho nasce, as costas passam a ser muitas vezes as de uma irmã mais velha, muito pouco mais velha. Não admira portanto que a taxa de abandono escolar das raparigas seja muito superior à dos rapazes.

Quando se chega ao país é uma das realidades que salta à vista - as crianças até aos 2 anos (por vezes mais)são carregadas às costas ... sempre.

Claro que penso há muito fazer um post sobre os slings africanos, muito diferentes destes de que tanto se falou aqui. E basta ver as mulheres guineenses a trabalhar, durante todo o dia, carregando o filho para se duvidar das vantagens de tal babywearing. É verdade que não se ouve nunca uma criança chorar. Ouvi uma vez, com estranheza, uma pequenina vizinha de gabinete mas vim a saber que estava muito doente. A regra é os bebés estarem envolvidos pelo pano até ao pescoço sem qualquer hipótese de movimento, durante todo o dia. Quanto aos mais velhos, é-lhes dada a benece de poderem mexer os braços.

É calmante estar assim em contacto com o corpo da mãe? Claro que é, mas é também um profundo treino de passividade e de não iniciativa que me parece ter resultados desastrosos na idade adulta. A estimulação precoce é muito reduzida e sabemos bem a sua importância, nós que tanto nos orgulhamos dos nossos pequenos prodígios.

Uma coisa é certa: não há nada mais belo e enternecedor.

P.S. Ao procurar as fotografias para este post apercebi-me que tenho muito poucas e quase todas de má qualidade o que é estranho uma vez que o tema a fotografar nos rodeia permanentemente. A tentação de apanhar mãe e bebé dificulta as coisas mas sobretudo a velocidade a que as mães se deslocam levou-me muitas vezes a correr atrás delas, em vão. Ainda não estou apta para tão difícil missão.

9 comentários:

  1. A relação entre a forma de carregar os bebés e as prioridades de cada sociedade para os seus mais pequenos é um assunto fascinante. Acho que gostarias deste livro de etnopediatria que explora muito bem o tema: Our Babies Ourselves (podes ver um resumo em http://www.llli.org/llleaderweb/LV/LVAprMay99p38.html ). Beijinhos

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  2. Oi Lena: Tenho recordaçoes mt vagas de ter estado assim, na cambuça, termo fiote, da minha Mae e da Matilde a mais velha que trabalhava la em casa.... enquanto passava a ferro ficava ali encostada e quantas vezes nao adormecia, que sensaçao tao doce e calmante.... sera por isso que passar a ferro ainda e uma actividade que faço com prazer?
    M

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  3. e como as crianças se adaptam ao movimento das mães, tantas vezes inclinadas com a cabeça quase para baixo quando as mães se dobram daquela maneira ágil tão africana, quase posições de ioga !

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  4. Olá Helena , que bom estar por aí e enviar-nos estes postes , estas imagens , no meu caso servem para matar saudades....e provocar-me a vontade de voltar.!!!
    Também a mim me enternece estes bébés enroladinhos nas suas mães....que contacto profundo....por Amor e pela necessidade de estarem livres, assim podem ser de novo mulher, mães e trabalharem.
    Mas permita-me um reparo....daqui também saem pequenos prodígios!
    A questão quanto a mim, não é ficarem imovéis a receber o calor das suas mães enquanto pequenos, este de estrema importância para ajudar a extreturamo-nos enquanto adultos, a questão é que quando saem do calor das suas mamãs não têm escolas, centros materno- infantil etc,de igual como os "nossos pequenos prodígios"....e permita-me ainda dizer que os nossos "prodígios" enquanto adultos falta-lhes em muito este embalar de mãe temperado com contacto e calor materno que os tornaria menos prodígios e mais Humanos Felizes, enquanto crianças e enquanto adultos...
    Há que encontrar o meio terno! E essa é a grande dificuldade , pelas mais variadíssimas razões ...no entanto penso que vale apena aprendermos Todas umas com as Outras!
    E muito obrigada pelo seu poste!!!

    Muito boa viagem e aproveite ao máximo , que eu um dia destes vou fazer o mesmo.
    bjnho,
    clara

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  5. Olá Clara: Obrigada pela forma como tem seguido este blog e como se tem dado ao trabalho de fazer comentários.
    Quanto a este último a referência "aos nossos pequenos prodígios" foi feita com ironia. Claro que me referia a esta pressão que se exerce na nossa sociedade sobre os mais pequeninos para que eles aprendam o mais possível, o mais cedo possível. Sempre com o desejo de que eles venham a ser adultos brilhantes, cheios de sucessos vários.
    Claro que sabemos como a qualidade da escola faz toda a diferença mas também sabemos que os primeiros anos de vida são decisivos para o desenvolvimento da personalidade e que andar todo o dia com as costas da mãe como paisagem é também uma grande privação perceptiva. Não é só o contacto corporal com a mãe que importa, há tudo o resto.
    Enfim, é a minha opinião.
    Claro que todos os bebés, os nossos também, precisam de colo. para além de muitos outros estímulos.
    Espero que possa voltar à Guiné-Bissau uma vez que também ficou tocada para sempre.

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  6. Querida Helena também agradeço por me ter aberto mais o meu campo de refleção....é mesmo assim.Obrigada.!!
    Sabe, naquele dia em que fiz o comentário aqui , tinha feito de manhã um atelier de modelação-"Modelar o Barro a Brincar"é assim que se chama.
    As crianças modelão barro branco , porque o vermelho nunca mais sai da roupa, sobre um tema que eles escolhem individualmente, e depois na segunda parte fazemos uma ligação entre as diferentes modelações ou seja individualidades....estimulando-os para irem contando coisas sobre aquele objecto que estão a criar..ou objectos...e o que dá coisas estremamente criativas como pode imaginar!!!E divertidas!
    Estas crianças tinham entre 6 e 8 anos!
    Mas naquele dia tinha um grupo que só modelou carros de topo e telemóveis....Bom estou a exagerar...havia um que fugiu completamente para um mundo super criativo, com uma história contada , de: princesas com 4 pernas e braços super longos para tratar dos filhos de estavam do outro lado , longe, dizia-me esta criança, flores para a avô que também existia e tinha 2 gatinhos juntinhos aos pés....etc,etc.
    O problema para mim é que esta criança estava a ser completamente gozada pelos outros...aproveitei para dizer aos outros como podiamos interligar os tm, os carros com as avós dos gatos fofinhos e e os braços gigantes daquela mãe princesa ....parece que conseguimos e todos ficaram mais calmos ..., sem superioridades, interligados , pelo menos naquele momento e eu a desejar que fosse para toda a Vida, quando os pais os vieram buscar muitos contaram logo que o bmw ia buscar a avó que já não tinha 4 pernas , como a mãe princesa, e não podia andar rápido...Claro diziam eles, aos pais , quando estes franziram o sobrolho!!!!!!(Assim á país!!!). Por aí fora.....Eu juro que estava feliz !!!Mas que deu muito trabalho, deu!!!
    Também fiquei preocupada, fiquei e já não é a primeira vez que isto acontece!
    Desculpe a longa explicação, mas agora um pouco mais distante daquele dia e com uns minutinhos para estar aqui a partilhar consigo....tinha de contestualizar o meu comentário.
    Beijnhos ...e quem sabe até um dia, no Lisboa,Monchique, Bissau ou ....,
    da Clara

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  7. Obrigada Helena , pela sua ajuda á abertura da minha refleção!
    É... Também assim que eu agora penso!

    Beijinhos e talvés um encontro nesta rota...Lisboa, Monchique, Bissau , ou....
    Feliz concretização dos seus projectos!

    da Clara

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  8. Clara: Que bom o post ter dado para comunicarmos sobre um tema tão importante e tão próximo.
    Espero qualquer dia passar por Monchique. Bjs

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