30 agosto 2010

A casa (11) - os objectos

Apesar de tão pequena a casa terá de ser equipada. Prazer máximo!

Terá alguns objectos da defunta casa de praia, anulada há anos. Esta casa foi comprada pouco depois e é, de certa forma, sua sucessora. Haverá portanto algumas memórias dela.

Haverá também, espero, um ou outro da minha casa de infância. Mas sobretudo terão um lugar especial os objectos trazidos de Bissau. Alguns deles chegaram hoje, juntamente com uma provisão de manteiga de karité sem a qual já não sei viver. Que alegria recebê-los.

Que saudades de lá!

29 agosto 2010

A casa (10) - "as pregas"

Fotos de Francisco Nogueira

As "pregas" de cada lado da porta já tiveram fim à vista. Salvou-as o facto do Sr. F. estar tão avisado de que eu sou insuportavelmente controladora. Pediu licença para desviar a porta 10cm e não a obteve. Amigos como dantes. Salvaram-se e com elas um pouco da graça da casa.

Sim, eu sei que a casa não tem quase nenhuma mas é uma das poucas da terra que ainda não levou "melhoramentos" que consistem em azulejos exteriores, azulejos interiores, para além de porta e caixilharia em alumínio.

Espero portanto que a futura casa continue a ter direito aos seus pregueados.

25 agosto 2010

A casa (9) - os mosaicos

Na oficina do Mestre Zagalo fiquei maravilhada com os procedimentos, com a justeza da sua execução e também com as formas e as grelhas.

Naquele dia estavam duas pessoas a trabalhar com o mestre e as formas iam passando de mão em mão, conforme as competências de cada um. Os mosaicos iam saindo a um ritmo cadenciado mas lento, claro está. Como poderia um trabalho destes dar origem a um material barato?

Confronto-me com a dificuldade da escolha porque para além de achar quase todos os desenhos bonitos, não existe um catálogo que me possa ajudar. É uma decisão muito importante para o sucesso do desafio. E se me engano na escolha?

24 agosto 2010

A casa (8) - o chão

Como muitos citadinos, cresci a sonhar com chãos de tijoleira, escuros, resplandecentes ou como os algarvios, amarelados, baços e rugosos.

Quando há mais de 20 anos pude escolher o material de um chão de casa de praia, não hesitei e entrei num inferno de que só saí quando me desfiz da casa. Opiniões sobre tratamentos de manutenção, receitas de produtos para preparação, houve de tudo. Ou era falta de gordura ou gordura a mais, o facto é que nunca atingi a perfeição. Esforcei-me mas não com a obstinação ou a inspiração necessárias. O chão foi sempre um desastre e era sempre motivo para mais uma solução milagrosa apresentada por quem me visitava pela primeira vez. Prefiro esquecer.

Agora vai haver de novo um chão, o tal de 29 m2. Quero-o limpo, sem nódoas e sem dramas. Tijoleira, já dei. Há 25 anos cheguei a pensar em mosaico, daquele pintalgado dos anos 50, mas faltou-me a coragem para usar na minha casa de férias exactamente aquilo de que me queria desfazer na minha cozinha de Lisboa. E nem o facto da Bica do Sapato ter um de que eu gostava me fez pôr de lado a ideia da tijoleira.

Agora é diferente. A Rosa Pomar tem vindo a fazer uma recolha de mosaicos hidráulicos antigos e divulgou a arte do Sr. Lúcio Zagalo aqui. Tem sido um trabalho notável que se espanta que não tenha sido feito pelas entidades públicas.

Fui pois a Estremoz visitar a oficina e ver o Mestre trabalhar. Fotografei mosaicos e formas e agora vou ter que escolher. Difícil tarefa quando a oferta é tão grande. Pus de lado os padrões maiores e também os que têm relevo em trompe-l'oeil ou cores demasiado marcantes. Não quero que o chão tome conta do espaço. Para isso estou cá eu.

A casa (7) - o descasque

Fotos de Inês Nogueira

A obra começou. Com derrube e descasque o local transformou-se num campo de batalha, depois da batalha. Mas não há dúvida que perdeu em parte o aspecto decrépito.

É agora visível que muita coisa vai nascer depois da tormenta actual.

21 agosto 2010

A casa (6) - os detalhes

Fotos de Francisco Nogueira

Muito poucos detalhes como se espera em casa tão pequena e tão pobre. Mais uma razão para o esforço de os conservar sempre que possível.

São eles um nicho no quarto com um desenho bizarro. Por que o terão feito assim?

Um outro na antiga cozinha e futura casa de banho; aparentemente banal, com um pequeno devaneio na parte inferior.

O nicho para o fogão, redondo de um lado.

Os ornatos de cada lado da porta de entrada e da janela. Muito simples, pregueados, um pouco art-déco. Prolongam-se na guarda da açoteia e serão preservados quando ela for elevada. Segurança das crianças a isso obriga.

A glória máxima é o tecto redondo do corredor, no enfiamento da porta de entrada e com a porta para o pátio ao fundo. Pátio que vai virar cozinha.

Como vai ser necessário isolar a cozinha da açoteia com uma porta, as escadas vão ter que ser modificadas mas as crianças já descobriram nos desenhos do projecto motivo de excitação.

A casa (5) - o quarto

Fotos de Francisco Nogueira

Da rua entra-se pela bela porta de alumínio, com vidro martelado. Conjugação dos dois materiais que mais abomino num só equipamento. Sorte a minha.

Está-se então na sala em que sobressaiem as duas portas de madeira com bandeiras, agora amarelas mas que tudo faz prever que venham a ser brancas em breve. Uma delas abre para um cubículo interior em tempos com porta para o corredor, porta essa que desapareceu juntamente com a parede a que pertencia.

O dito cubículo era chamado pomposamente de quarto e assim continuará a ser, apesar da parede para o corredor ter sido dispensada para que se possa colocar no espaço uma cama. Quarto sem cama não poderia mesmo ser ... A cama é que terá que ser mandada fazer, por incompatibilidade manifesta do espaço com as medidas standard.

Como a parede ruiu por completo durante a minha estadia em Bissau, o trabalho está adiantado.

20 agosto 2010

A casa (4) - a açoteia

Por cima há uma açoteia com um casinhoto que foi quarto. Assim se vivia há cem anos quando nasceu esta casa e assim se viveu em Portugal por muitos, muitos mais anos. Às vezes parece que já ninguém se lembra disso.

À volta da açoteia há muitas outras, mesmo ali, construindo todas juntas um puzzle de espaços mais ou menos brancos. Espaços desabitados, agora que já não se secam os figos nelas.

Pretende-se que a açoteia da casa venha a ser o seu recurso maior, durante o verão. Por vezes a imaginação voa e eu confronto-me com as imagens fotográficas bem diferentes das mentais. A açoteia não tem 50m2, tem só 25. Preciosos.

A casa (3) - os restos

Fotos de Inês Nogueira

A casa tem 100 anos. Nela viveram outras gentes, até ter ficado desabitada há uns 20 anos.

Desse passado sobraram muito poucos restos: uma máquina de costura Singer, quatro pires com florinhas, dois deles de chávenas almoçadeiras desaparecidas e, atenção ... um lustre.

Esperamos salvar a máquina, os pratos terão o seu lugar na casa renascida e, quanto ao lustre ... lixo com ele.

19 agosto 2010

A casa (2) - a entrada

Todos vão perceber por que falo em desafio e como ele é grande.

O esquema da casa é o normal da terra na era ante-apartamentos, na sua versão mais pobre: uma porta, uma janela, um pátio minúsculo ao fundo.

Entalada entre outras mais ou menos semelhantes, embora já refeitas, tem como únicas entradas de luz as da fachada e a do pátio.

Área total: 29 m2.

O estado é o que aqui deixarei registado. Capaz de desanimar qualquer um com mais juízo.

18 agosto 2010

A casa

Estas férias foram diferentes porque a partida não foi bem uma partida. Durante aqueles dias começaram as obras de ressurreição de uma casa que nos fará regressar sempre, verão e inverno. O acontecimento já foi anunciado aqui.

Este projecto enche-me os dias embora por enquanto seja só em pensamentos. Quanto às obras, estão ainda em ritmo lento.

Vai ser mais um desafio. E como eu gosto de desafios!

05 agosto 2010

Voz de animal

Naquele quarto que foi meu durante duas semanas acordei todas as madrugadas com o mesmo canto de pássaro. Nada percebo de cantos de pássaros e meti conversa com uns vizinhos para tentar saber qual seria o artista. Melro, disseram eles. Fiquei assim a saber que os melros cantavam e daquela maneira tão especial.

À chegada a Lisboa fui consultar o livro "Vozes de animais" que encontrei este inverno ao tentar organizar minimamente as estantes. Trouxe-o ao desfazer a casa de meus pais, há mais de dez anos, e sempre me intrigou por que tinha o meu pai comprado aquele livro, ele que tão pouco se interessava por animais. Quanto a mim, acho-o um livro divertido que se auto-intitula dicionário de onomatopeias. Os animais estão arrumados por ordem alfabética e para cada um há transcrições de obras literárias em que se refere a sua voz. Para melro há, por exemplo, assobiar, cacarejar, razinar, piar, rir, etc, etc. Para todos os gostos.

No meu passeio pelo Chiado, de que falei aqui, tivera de presente um melro comprado na Casa das Vellas do Loreto. No dia seguinte um melro de verdade entraria na minha vida. Mais uma coincidência, esta com direito a banda sonora.