Como muitos citadinos, cresci a sonhar com chãos de tijoleira, escuros, resplandecentes ou como os algarvios, amarelados, baços e rugosos.
Quando há mais de 20 anos pude escolher o material de um chão de casa de praia, não hesitei e entrei num inferno de que só saí quando me desfiz da casa. Opiniões sobre tratamentos de manutenção, receitas de produtos para preparação, houve de tudo. Ou era falta de gordura ou gordura a mais, o facto é que nunca atingi a perfeição. Esforcei-me mas não com a obstinação ou a inspiração necessárias. O chão foi sempre um desastre e era sempre motivo para mais uma solução milagrosa apresentada por quem me visitava pela primeira vez. Prefiro esquecer.
Agora vai haver de novo um chão, o tal de 29 m2. Quero-o limpo, sem nódoas e sem dramas. Tijoleira, já dei. Há 25 anos cheguei a pensar em mosaico, daquele pintalgado dos anos 50, mas faltou-me a coragem para usar na minha casa de férias exactamente aquilo de que me queria desfazer na minha cozinha de Lisboa. E nem o facto da Bica do Sapato ter um de que eu gostava me fez pôr de lado a ideia da tijoleira.
Agora é diferente. A Rosa Pomar tem vindo a fazer uma recolha de mosaicos hidráulicos antigos e divulgou a arte do Sr. Lúcio Zagalo aqui. Tem sido um trabalho notável que se espanta que não tenha sido feito pelas entidades públicas.
Fui pois a Estremoz visitar a oficina e ver o Mestre trabalhar. Fotografei mosaicos e formas e agora vou ter que escolher. Difícil tarefa quando a oferta é tão grande. Pus de lado os padrões maiores e também os que têm relevo em trompe-l'oeil ou cores demasiado marcantes. Não quero que o chão tome conta do espaço. Para isso estou cá eu.