15 maio 2009

Acerca de museus

Fotografia de Telma Marta

Acabo de saber que foi aprovado em Conselho de Ministros a criação de um novo museu. Será ele o Museu da Língua Portuguesa que entrará em interacção com o seu irmão brasileiro.

Pede o Ministro da Cultura que igual medida seja tomada nos restantes países da CPLP. Tudo isto seria apenas desadequado, se não fosse muito grave. É que é suposto instalar o tal museu no Museu de Arte Popular, em Belém.

Será com certeza ocasião para um belo projecto de arquitectura (suponho que de interior). Pois ... e a língua portuguesa? Alguém acredita que o número d

e falantes aumente por existir tal museu? Alguém acredita que baixe a elevadíssima taxa de iliteracia em Portugal?

E no resto dos países da CPLP? Museus? O que se pensa fazer com os projectos de promoção do português, de formação de professores, de apoio ao português como língua de ensino? Espera-se muito de Portugal nesse campo e as verbas são curtas.

Aqui na Guiné-Bissau deixou de haver Adido Cultural há três anos, pelo que temos um Centro Cultural Português praticamente fechado. Foi considerado supérfulo, face à falta de verba. Temos milhares de inscrições todos os anos para os cursos de português no CCP e não temos professores para os garantir. Mais uma vez por não ser considerado importante.

E Portugal quer fazer um Museu da Língua? E para o fazer quer destruir o Museu de Arte Popular?

Está prevista para amanhã uma acção de repúdio por tal medida. Vão bordar um grande lenço de namorados e pendurá-lo na fachada do Museu. Se eu estivesse em Lisboa estaria lá seguramente, de dedal no dedo.

Porque estou longe,

porque quero que se leia mais, se escreva melhor em Portugal,

porque quero que as crianças da Guiné-Bissau, e não só, tenham acesso ao ensino em português,

porque quero ter o Museu de Arte Popular renascido, no local em que nasceu,

espero que algum dos meus visitantes esteja por mim em Belém, ao meio-dia, amanhã. E que me contem aqui.

Para saberem mais do que estou a falar, vejam aqui. Foi onde eu vi.

E.T.: Escrevi estas linhas, usando do "meu direito à indignação", sem me informar devidamente sobre o assunto. Penitencio-me por isso. Assim, não sabia que já havia um projecto de arquitectura concebido, muito menos que ele não mostrava respeito pelo MAP. Falei do futuro projecto com ironia, farta de ver belos projectos cilindrarem outros valores, para mim mais importantes. Afinal a situação é ainda mais grave do que pensava.

2 comentários:

  1. Vou tentar passar por lá, pese embora que os bordados não fazem muito o meu estilo... mas a causa é boa.

    MAnuel Teixeira

    ResponderEliminar
  2. que pinderiquice o museu da língua portuguesa, como se uma língua se conservasse num museu e não nos livros, nas escolas, na vida ! (e nos lenços dos namorados ...)

    ResponderEliminar