A casa não surgiu aqui por acaso. Houve um passado de algumas décadas em que a ilha era o paraíso anual. Essa sensação de nos aproveitarmos do paraíso teve sempre o seu sabor a pecado. Apesar da nossa postura correcta e consciente de preservação do ambiente, tínhamos bem a sensação de que havia naquelas férias uma grande contradição. Aquele espaço era público e não era justificável que desfrutássemos dele de uma forma tão privada. Ainda por cima tirando daí um prazer tão perfeito.
Ao fim da tarde o último barco levava os últimos banhistas para terra e a ilha ficava a ser um espaço só nosso. Nosso e de mais uma dúzia de pessoas que desapareciam dos nossos olhos. A casa na areia, o fogo que se acendia para assar as sardinhas enquanto as crianças tomavam banho no terraço, os pés no mar ao luar, as conversas intermináveis na areia ou à volta da mesa (o que era igual) ...
Depois, de manhã, com todos ainda a dormir, partia para terra no primeiro barco, só eu e o marinheiro. Compras no mercado, torrada, Público e café no largo, quando as cadeiras ainda não estavam todas nos seus sítios.
Tudo isso acabou, outras férias nasceram, agora que o mar fez justiça e a Câmara Municipal, sem alarde, com a aparente aceitação de todos, completou a tarefa.
A ilha já não tem casas. Está tudo certo. É só pena que o problema tenha sido resolvido no local em que quase não o era. Em contrapartida, na outra ponta que não se avista, o pesadelo é imenso.
Afinal de contas, o mesmo que alastrou por todo o Algarve.
ai, mãe. que saudades.
ResponderEliminarEra mesmo um paraíso...
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