17 junho 2009

Ostras

Declarar que vivo em Bissau causa sempre grande impacto. Surpresa, certamente, mas também curiosidade. No que respeita aos homens da minha geração, há fortes probabilidades de que tenham estado aqui na guerra colonial. E as reacções são sempre entusiastas, o que me intriga muito. Como se pode ter saudades duma terra para onde se foi mandado para fazer a guerra e onde se comeu o pão que o diabo amassou? O clima é péssimo, a colónia foi sempre a mais pobre e mais indesejada, a guerra a mais feroz. O que se passou entre os dois lados para que as memórias se lavassem do horror e persistisse a vontade de voltar?

São sempre as gentes que evocam com grande ternura, diga-se. Depois referem os pequenos prazeres, as vindas a Bissau e ... as ostras. Parece que se comiam em cada canto da cidade, a todas as horas. Durante a minha já longa estadia sempre tive que me deslocar a Quinhamel, a cerca de 30 km, para as comer, o que no início não era fácil dado o mau estado da estrada. Agora descobri que também as há em Bissau, no Oásis, ao pé do que resta do porto.

Para quem gosta das ostras cruas, estas ostras são outra coisa. São postas na chapa para abrirem muito levemente, o suficiente para que se consiga terminar o trabalho à mesa. São pequenas e se quem as assa se descuida transformam-se nuns pedacitos secos e encaracolados.

A experiência de comer ostras na Guiné-Bissau não é pois tão entusiasmante como a de as comer à beira-mar na Bretanha mas é apesar de tudo um programa para quem gosta de cortar a rotina do dia-a-dia. Pormenor muito importante: são servidas com um pires com sumo de limão verde e malagueta picada onde se mergulha o animal. Delicioso!

Em Bissau vendem-se ao sábado de manhã, sempre no mesmo local, à sombra de árvores. E lá estão os limões, ao lado. Naquele dia havia boa disposição por ali e até houve quem ensaiasse uma dança.

5 comentários:

  1. Ora aí está uma coisa que aqui não há nem por sombras ! mas conheço quem tenha provado por aí e tenha sobrevivido ! ;-)

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  2. Oi Lena:
    Acho que ja sei!!!! Afinal tao simples!!!
    Gosto mt do teu blog que visito quase diariamente!!!
    As ostras!!! A lembrar as que eu comia e que se apanhavam no rio perto de Cabinda!!! Com o petroleo ja nada deve restar claro! Bjins Malicha

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  3. Acabo de mostrar ao meu marido o seu comentário, pois esteve aí e sempre fala nas ostras...e fala nas pessoas sempre com carinho.
    Obrigado.

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  4. Pois eu estive na Guiné em 1990, nunca tinha comido ostra; no cacheu tive a oportunidade de as experimentar exactamente como aqui é descrito, abertas com uma ida ao forno de menos de um minuto, forno de lenha, a temperaturas ridiculamente altas, para abrirem sem cozinhar, depois mergulhadas em molho de lima e jindungo.
    Uns dias mais tarde, em Quinhamel, depois de uma visita ao um dos sítios mais bonitos que já conheci na minha vida.
    Também provei do pior marisco que me serviram, na vida, nas Bijagós, em Bubaque. Sabia tudo a borracha.
    Para concluir, não concordo com a afirmação que compara a Bretanha a Bissau. África tem um encanto que nenhum país Europeu alguma vez poderá almejar. O calor, a humidade, os cheiros, sim, principalmente os cheiros, as cores; não há igual.

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