Nascida e criada em Lisboa, vivi em Bissau. Gosto dessa terra onde me sinto em casa. Vou tentar mostrar porquê, aos poucos, para que conste.
13 abril 2009
Chiado (2)
Mais tarde passou a ser caminho para o local de trabalho pois o Largo da Misericórdia continuava a ser arredores. Foram 20 e tal anos a subir a Rua do Carmo, a estudar com cuidado a montra do Martins e Costa com os sacos de sarapilheira cheios de ostras à porta e umas soberbas postas de salmão na montra. Salmão do verdadeiro, pescado no rio Minho, manjar que eu ouvia gabar mas onde nunca meti o dente.
Mais acima, havia a paragem obrigatória na Leitaria Garrett ("Esmerado serviço de chá e torradas", lia-se na fachada). Na época não era ainda cantada, embora já fosse também do Vitorino. Mas sobretudo era do João das Baratas, lisboeta dos sete costados, nascido e criado na Rua Ivens, com sala de estar na Leitaria. Saudações efusivas aos conhecidos que chegavam, humor corrosivo dirigido a todos. Era assim o João, com apelido já esquecido. Era das Baratas porque de vez em quando, muito de vez em quando, dignava-se ganhar uns tostões usando uma receita herdada do pai para afugentar as ditas.
Este Chiado (2) terminou com o incêndio em 1988, de que tive notícias em Nacala, no norte de Moçambique, enquanto vivia a minha primeira experiência africana. O choque foi enorme e havia boa razão para ele. Aquele Chiado tinha acabado.
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