08 março 2009

Aziz

É meu vizinho pois trabalha na mercearia mesmo ao lado do meu gabinete, no centro de Bissau. A nossa relação faz-se de chegadas e partidas e também de comércio pois, desde que a loja abriu, abasteço-me nela. A ida à rua do mercado, que tão importante era para mim quando estava de passagem, passou a ser demasiado pesada, enquanto residente. Abrir a porta do carro já é um problema, tantos são os vendedores a exibirem os produtos e a chamarem pelo meu nome.
O Aziz é pois uma pessoa importante no meu dia-a-dia. Só que o começo da nossa relação não foi fácil.
Ele é mauritano, recém-chegado a Bissau quando a loja mudou de dono e ele foi contratado. Não falava uma palavra de português, como é natural, e começou a aprender crioulo, como é natural. Como os clientes são quase exclusivamente professores portugueses, achei que devia mostrar as vantagens da aprendizagem do português. Usei os argumentos habituais, com muitos gestos para ajudar. Como se defende tal causa exactamente na língua que se quer que ele venha a conhecer um dia?
A reacção foi péssima e disse-me que falava francês e que eu devia aprender também para falar com ele. Expliquei-lhe que sabia falar francês e que o fazia quando ia a França ou ao Senegal. Na Guiné-Bissau falava a língua oficial.
O clima ficou mau porque é difícil que fique bom quando as pessoas se zangam e não falam a mesma língua. Decidi que não fazia lá mais compras. Mas o Aziz está sempre à porta e no dia seguinte tive que dar os bons dias e à tarde tive que me despedir. A situação não era propícia a declarações de guerra e passados uns dias comprei lá os únicos ovos em que confio.
O Aziz foi aprendendo um pouco, embora não se ande a esforçar muito, e agora já conversamos. Bom, conversar … quase! Sorrimos é muito, mas já em português.

7 comentários:

  1. gosto mesmo de te ler ... países diferentes mas como te percebo ...eu também sou constantemente "atacada" pelos vendedores ...
    e os ovos ... são coisas que se não citasses eu já nem pensava como uma dificuldade ...
    quanto à língua portuguesa, ah, isso !...
    mas sabes que aqui grande parte da população também não fala o francés. Mas os franceses estão muito, muito presentes para valorizar a sua língua.
    Posso continuar a tratar-te por tu ?
    e o Asa branca ainda existe ?

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  2. Gostou muito. Riu-se, nervoso, embora na fotografia tenha ficado sisudo, para grande pena minha.
    Confesso que não lhe disse que ia pôr a fotografia num sítio desta dimensão. Acabo de constatar que o Aziz já foi visto na Mongólia!

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  3. Brikebrok:
    Só ontem descobri que responder aos comentários era muito simples. Havia uma dificuldade qualquer, não percebi qual. Pus uma resposta a um comentário teu algures.
    Isto das línguas é muito, muito complicado, por estas bandas. Escreverei vários posts sobre isso, seguramente.
    Não, já não há o Asa Branca há muitos anos. Foi lá que comi a minha primeira refeição em Bissau, faz esta semana 9 anos.
    Quanto ao tu eu já sabia que ao decobrirem que era mãe do Caderno Branco, com uma neta bloguista, se ia colocar o problema a alguém.
    Por favor ... sejamos todos mais espanhóis!

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  4. Realmente não tem cara de quem goste de facilitar as coisas que não lhe convêm!
    :)

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  5. Gostei da foto, dá pra ver que em algumas partes de Bissaú é possível encontrar variedade de mercadorias. Chamou-me a atenção as latas de leite em pó 'Nido' que aqui no Brasil tem o nome "Ninho". Evidentemente que o este leite não é fabricado na Guiné.
    Quanto a diferença linguística, olhe pelo lado bom, você pode reclamar dos preços quanto quiser que ele não vai entender mesmo!
    Obrigado por compartilhar conosco estas aventuras.
    Só por curiosidade: A televisão guineense, se não me engano TGB ainda se encontra fora do ar?

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