(Esta mensagem foi escrita 3 dias antes dos assassinatos do PR e do CEMGFA).
Bissau é uma cidade à minha escala. Isso dá-lhe um ambiente familiar, de quintal de casa de férias, onde nada de muito entusiasmante se passa mas onde os perigos não são também dos maiores. É curioso isto, se se pensar que a instabilidade política está sempre à espreita.
O Mercado Central é um exemplo disso. Nada tem de muito interessante e é a sua pequena dimensão, bem no centro da cidade, que lhe confere importância. Ou conferia porque há alguns anos acordei com a notícia de que o Mercado Central tinha ardido durante a noite.
Desaparecido o último fumo, secas as lágrimas de quem tinha perdido toda a mercadoria (sobretudo castanha de caju e artesanato) o assunto resolveu-se da forma mais simples: os vendedores passaram do interior para o passeio em frente e lá improvisaram as necessárias bancas. Uma grande bagunça invadiu a rua mas não é isso próprio de todas as ruas à volta de mercados?
Passados os anos, tudo se mantém tal e qual. Chegou-se a falar que Portugal pagaria a reabilitação mas afinal há dias soube que vai ser o Banco Africano de Desenvolvimento o financiador. Alegrei-me até ontem, quando me contaram que está prevista a construção de lojas sobre o mercado e que o edifício terá quatro andares. Irá então virar Centro Comercial como este?
Todo o centro de Bissau vai ser irremediavelmente afectado por um crime urbanístico deste calibre. Para a desgraça ser completa só ficará a faltar arrancarem as mangueiras da zona (algumas já o foram).
Já não me bastava a raiva com o que vejo fazer em Lisboa. Agora tenho duas cidades para me fazerem sofrer.
que coincidência, quando cheguei aqui o mercado de Ouaga também tinha ardido, e eu conheci sempre esta cidade com os vendedores nas ruas à volta do ex-mercado, criando também grande bagunça :-) Com a ajuda da AFD foi reconstruído e inaugurará em breve, talvez ainda o consiga ver em funcionamento, o projecto não é mau. Aliás quanto a projectos de mercados aqui há até um que recebeu o prémio Agha Khan de arquitectura, em Koudougou que não é mau de todo.
ResponderEliminarQue saudades da Quinta, e de todas as "bideiras" que me chamavam pelo nome...;-)
ResponderEliminarBeijinhos para si.
Mónica: Também temos saudades suas. Faz cá falta, sobretudo nos jantares de sexta-feira. :)
ResponderEliminarBjs
Quando aí cheguei, achava engraçado todo esse movimento, o ouvir o meu nome. Cheguei a comprar (como todos) muita coisa de que não precisava. Aquela vontade de vender fazia-me ter vontade de comprar tudo a todos. Com o passar do tempo, já nem sabia para onde me virar e isso incomodava-me. Agora sinto saudades... de regatear, de tentar pôr ordem naquela simpática confusão. Ah, não consigo esquecer os meninos dos cartões, sempre atentos para que tivéssemos saldo para comunicarmos.
ResponderEliminarBeijinhos saudosos
Liliana
Recordo o momento em que soube que o mercado estava a arder. Não conseguia de pensar em todos os "Fatis" que tinham lá dentro as suas coisas guardadas. Para além do artesanato, havia também quem lá deixasse o dinheiro por julgar o mercado mais seguro que as suas próprias casas. Quando lá fui e vi os olhos do Fati, fiquei desolada. Tinha mulher e filhos para alimentar e não havia mercadoria, nem dinheiro para comprá-la. Decidimos ajudar e jamais esquecerei o rosto dos meus amigos do artesanato quando lhes entregámos o dinheiro angariado. Éramos amigos, ficámos família.
ResponderEliminarSei que provavelmente nenhum deles lerá isto, mas mesmo assim deixo aqui um beijinho para o Fati, o Algas, o António e um especial para o meu amigo mauritano que aprendeu a falar português. :)
Obrigada por me fazer recordar estes momentos perfeitos e coloridos vividos em Bissau.
P.s. Tenho saudades dos jantares de sexta.