
Tão longe e tão perto!
Nascida e criada em Lisboa, vivi em Bissau. Gosto dessa terra onde me sinto em casa. Vou tentar mostrar porquê, aos poucos, para que conste.
A sua condição de árvore sagrada, à sombra da qual têm lugar rituais e cerimónias, compreende-se de imediato. O porte é majestoso mas sobretudo o que nos deixa boquiabertos é o tronco, o mais belo de todos os troncos, na minha opinião, com aquelas pregas que mais parecem as de um sumptuoso vestido de noite, digno de um filme do Visconti.
Impossível falar de poilões sem referir o mais célebre de todos, embora pela pior razão - o poilão de Brá, presente em todos os noticiários, em 1998/99. Representava a frente de batalha na luta que opôs os rebeldes de Ansumane Mané (Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas) às forças leais ao Presidente da República, Nino Vieira.
Por ser uma árvore sagrada, o poilão de Brá ainda lá está, na berma da estrada do Aeroporto, bem perto daquele que foi o meu local de residência.
Que pena as mangueiras não o serem! Teríamos ainda a cidade cheia daquela sombra consistente que só elas dão.
P.S.Cada vez acho mais que na Branca de Neve da Disney, o primeiro filme que vi, as árvores que aterrorizaram a B.N., com olhos e bocas terríficos, eram poilões. Procurei imagens no Google, para me certificar bem disso, mas não as encontrei. Se alguém as descobrir ou as tiver em papel, por favor, envie-mas. Gostava de poder conferir memórias já antigas.Fica a poucas dezenas de quilómetros de Bissau e foi durante muitos anos o único destino para uma escapadela durante uma tarde de fim de semana - um almoço no Mar Azul, restaurante integrado num conjunto com pretensões a ecoturismo, permanentemente em estado de falência, ou no Português, alternativa bem mais rústica e saborosa.
O F. e a R.B. levaram-me ao Português durante a minha primeira ida ao país, em 2000. Como bons conhecedores do terreno, levavam no bolso instrumentos próprios para abrir as ostras e, assim armados, nos instalámos numa das mesas de tábuas corridas, próprias para a luta inevitável. Trata-se, de facto, de uma verdadeira luta corpo a corpo com os animais que, apesar de assados, teimam em não se deixar comer. Por vezes é mesmo preciso desistir de querer abrir um ou outro e, em alguns casos, a luta deixa marcas de alguma facada.
Mas tal não impede que as travessas cheias de ostras acabadas de sair do forno sejam despachadas a grande velocidade e que as cascas se amontoem em baldes estrategicamente colocados no chão.
Finda a orgia, muda-se de mesa e prossegue-se a refeição, agora em contexto mais banal. Mas, note-se, tanto uma ou como outra fase do processo têm lugar à sombra de cajueiros.
Para além das ostras, Quinhamel tem para mim um outro encanto - a estrada de acesso ao Português é um verdadeiro túnel de árvores, de entre as quais se destacam os poilões gigantes. Mas isso merece ser assunto para outro post.
Ontem foi 15 de Maio, dia oficial da primeira chuva. Sendo assim, fala-se disso na véspera (será que vai chover?) e olha-se o céu mais vezes durante o dia. Este ano esperava-se que a chuva viesse cedo mas o dia passou sem novidade.
Continua-se portanto à espera porque o calor e a humidade estão no seu máximo e a chuva será uma descarga muito bem recebida. Descarga de água e também de tensões.
Vai-se portanto continuar a olhar o céu.