14 julho 2009

Bastilha

Esta capulana foi-me oferecida em Moçambique, há 21 anos, aquando da visita que fiz à Texlom, na Matola. Tinham passado 16 anos desde a inauguração desse gigante da indústria têxtil e os tempos não eram facéis para Moçambique, em plena guerra civil.

Maputo era então uma cidade cercada e ir à Matola, nos seus arredores, era o máximo que se podia ousar. A empresa beneficiava, desde 1986, de um programa de reestruturação do governo francês e embora fosse evidente a parilisia, pude ver uma ou outra máquina a trabalhar. De uma delas saíam capulanas a perder de vista, coloridas como geralmente são as capulanas. Quando me aproximei pasmei com o desenho.

Estávamos no ano das comemorações do bi-centenário da Revolução Francesa que tanto empolgaram a França. Muito longe, alguém daquele projecto da cooperação francesa pôs as máquinas a trabalhar em conformidade com o momento. Devo dizer que este facto me chocou um pouco por ter achado que o financiador se estava a aproveitar do beneficiário, a sujeitar a cultura local aos interesses culturais estrangeiros. Chocou-me, mas divertiu-me, pois conhecia a polémica que tinha havido em França acerca de quem iria substituir a Brigitte Bardot como modelo para o busto da Marianne. Escolhera-se a Catherine Deneuve e, eis senão quando, ela muda de cor de pele por decisão de alguém, no outro lado do mundo.

Agora, olhando para este pano de belíssima qualidade, sorrio e alegro-me com a universalidade dos valores. Mas não posso deixar de pensar que se ele tivesse sido feito por um projecto apoiado pela cooperação francesa na Guiné-Bissau era quase certo que ao lado de "Les hommes naissent et demeurent libres et égaux en droits" teria sido escrita a tradução em crioulo e não em português, como na minha capulana moçambicana.

6 comentários:

  1. És uma mulher do mundo como te vais aguentar a regressar a casa? Não acredito que seja por muito tempo!

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  2. quelle trouvaille !
    ja estas por ca ?

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  3. Mónica: Pois é, vou perdê-los ... :-(

    Vera: Não, só vou de 17 para 18. Neste momento, vivo em pleno caos! Não tenho gostado nada do silêncio do Brikebroke. Espero que ele não signifique ... bom, nem digo o quê.

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  4. Girissima esta capulana, uma relíquia! Eu trouxe duas de Angola nada que se compare!
    Deves estar a tentar meter o Rossio na Betesga...mas olha que nemhum cabe no avião! ;)
    Beijinhos e boa viagem.
    Ana

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